terça-feira, 4 de novembro de 2008

O caminho do meio

O preceito primordial do budismo diz que o melhor caminho é o do meio. Sem excessos, sem omissões, nem tanto nem tão pouco.
Pois o ritmo da minha vida nas últimas semanas tem açoitado este preceito, deve ser por isso que estou longe de parecer um monge budista, mais longe ainda do Nirvana.
Vou usar como exemplo da última sexta-feira. Como meu projeto depende da ajuda e da boa vontade de pessoas alheias (sim, estas pessoas serão as mais beneficiadas quando o projeto acabar, mas elas não sabem, ou não acreditam, nisso ainda....), pessoas estas com várias tarefas, reuniões o dia inteiro, problemas a resolver com a crise, etc, não consigo preencher todo meu tempo útil com trabalho, por isso passo grandes períodos na velocidade "à toa".
Em contra-partida, por eu estar viajando, as tarefas da minha vida pessoal se acumulam para serem executadas da noite de sexta-feira até domingo. Já dá para imaginar como o fim de semana é corrido e o tempo escasso.
Depois desta explanação, chego finalmente ao exemplo da sexta. Pela manhã, trabalhei, ou pelo menos estava à disposição do projeto. Não fiz muito porque não tinha nenhuma reunião agendada, adiantei algumas coisas (nada de mais), mas não podia ir embora, porque para os clientes minha presença é importante, mesmo que não esteja fazendo nada de útil. Fiquei neste ritmo até meio-dia, quando dei início à minha maratona (ou seria aos meus 100 metros rasos, que nunca acabavam?).
Gastei 45 minutos para sair da Usina, entre esperar um carro que não veio, pegar uma Kombi que dá a volta por este mundo todo, e andar até meu carro alugado. Daí, eu tinha as exatas duas horas de viagem até o aeroporto, que seriam suficientes, em condições normais, para lá chegar, fazer meu check-in, pegar meu avião e ir direto de Congonhas para a concessionária, onde buscaria meu carro novo, que tinha acabado de comprar (aqui que entra a minha vida pessoal).
Eis que, decorrida uma hora de viagem, começa a desabar o maior temporal que já vi em toda a minha vida. Dirigir um Palio 1.0 numa estrada subindo, meio esburacada, cheio de caminhões levando e trazendo terra, minério, aço, e outros produtos que deixam vestígios pelo caminho, debaixo de uma chuva torrencial, onde 10 metros eram o limite de visibilidade, poderiam ter assustado algum prudente motorista. Mas minha obsessão pelo horário era tão grande, que aumentei minha adrenalina, pisei fundo e continuei, afinal precisava chegar, senão todo meu planejamento do fim de semana iria por água abaixo, literalmente.
Resultado: após algumas derrapadas pelo caminho (parecida com as de Lewis Hamilton, enquanto ele estava perdendo o Mundial de F1 no domingo), cheguei a tempo no aeroporto. A tempo de constatar que meu vôo estava atrasado.
Depois de algumas horas de estresse, voltei ao meu marasmo, mas não sem deixar o nervosismo de lado. Para resumir a história, cheguei uma hora e meia atrasado em Congonhas, o aeroporto estava insuportável, cheguei na concessionária meia hora depois de ela ter fechado, mas o vendedor, em toda sua boa vontade, me esperou, e consegui pegar meu carro.
A vida está assim: revezamentos entre marasmos e adrenalinas. Isso não faz bem. Com certeza um caminho numa velocidade constante seria mais saudável (nem tão emocionante, mas quem disse que emoções o tempo todo fazem bem?). Buda tinha razão.
 
PS: Pela extensão do texto, acho que dá para perceber que o marasmo voltou e ficou......